segunda-feira, 15 de setembro de 2014

O DILEMA DO PRISIONEIRO: Contributo do Prof. Desidério Murcho

(CONCLUSÃO)

Dado saber que esta proposta foi feita ao outro prisioneiro, e continuando a pressupor que ele também pensa amoralmente, tem de ter isso em conta.
Se o leitor não o denunciar mas ele o denunciar a si, ele fica livre e o leitor terá de ficar dez anos na cadeia. É preciso evitar tal coisa; o melhor, pois, é denunciá-lo. Neste caso, tudo vai depender de ele também o denunciar ou não: se não o fizer, é uma maravilha porque o leitor fica livre – e ele cumprirá dez anos na prisão. Mas é óbvio que ele fez exactamente o mesmo raciocínio, pelo que vai denunciá-lo também. Isto significa que apanham ambos cinco anos de cadeia.
Se o leitor pudesse coordenar a sua decisão com a do outro prisioneiro, o melhor para ambos seria ficarem calados – seis meses de prisão para cada um, em vez de cinco anos. Mas, sem garantias de que o outro irá cooperar, ficar calado é para si muito arriscado – pois se o fizer e ele o denunciar, ele ficará livre e o leitor ficará dez anos na cadeia. E, claro, uma vez mais, o outro prisioneiro está a fazer precisamente o mesmo raciocínio – e também ele não tem maneira de garantir que o leitor irá cooperar.

Imagine-se agora que o leitor e o seu companheiro pensam moralmente. Ambos serão solidários e nenhum confessa (*A pena será, então, recorde-se, de seis meses apenas). In  Murcho, Desidério: 7 Ideias Filosóficas que toda a gente deveria conhecer, Editorial BIZÂNCIO, 2011)

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