segunda-feira, 27 de julho de 2020

CORRESPONDÊNCIA. Às vezes chegam cartas...1+1

Caro Amigo


A verdade é que parece que estamos a viver uma vida suspensa de algo que estará para vir e sobre a qual não vislumbramos a menor pista nem explicação: muito se vai ouvindo por aí, mas de concreto nada se tem. Estamos de facto a viver uma era de indefinição que parece ser o prelúdio de qualquer coisa que transcende o meu entendimento.

Neste momento, o medo que não queria sentir vai-se instalando e a saudade do que se tem vindo a perder vai aumentando. Depois disto, como será a nova normalidade? Certamente nada voltará a ser como antes e muitas marcas ficarão: físicas, psicológicas, sociais. Porque isolamento, só quando é voluntário é que poderá não deixar marca. E isolamento, desconfiança e intolerância é o que alimenta hoje os nossos dias. 

Esperemos que não falte muito para nos voltarmos a juntar. "Que falta me faz aquela casa..."

AA

Cara Amiga,

Demorei a responder pois a sua mensagem reflecte afinal o que vai no fundo de cada um de nós: a perplexidade, a angústia, a incompreensão pelo desconhecido que nos amputa tudo aquilo que faz com que a vida mereça ser vivida: e falo de coisas simples, como um abraço de um familiar querido, o beijo de um neto ou a partilha do quotidiano com os amigos, sem medo ou receio.

Apetece dizer “já passa”, sabendo que irão ser muitos meses do mesmo, com a agravante de que a miséria começa a grassar em muitas famílias, e com isso, virão ao de cima coisas de que não vamos gostar. Mas a força tem de vir de uma reinvenção dos gestos, simples e amigos. Há que recriar, digo eu, sem saber ainda como…

Obrigado pela mensagem, que não deixou de me comover, pois mexeu com aquilo que nós temos de mais íntimo. Um abraço,

Arfemo

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