Caro
Amigo
A
verdade é que parece que estamos a viver uma vida suspensa de algo que estará
para vir e sobre a qual não vislumbramos a menor pista nem explicação: muito se
vai ouvindo por aí, mas de concreto nada se tem. Estamos de facto a viver uma
era de indefinição que parece ser o prelúdio de qualquer coisa que transcende o
meu entendimento.
Neste
momento, o medo que não queria sentir vai-se instalando e a saudade do que se
tem vindo a perder vai aumentando. Depois disto, como será a nova normalidade?
Certamente nada voltará a ser como antes e muitas marcas ficarão: físicas,
psicológicas, sociais. Porque isolamento, só quando é voluntário é que poderá
não deixar marca. E isolamento, desconfiança e intolerância é o que alimenta
hoje os nossos dias.
Esperemos
que não falte muito para nos voltarmos a juntar. "Que falta me faz
aquela casa..."
AA
Cara Amiga,
Demorei a responder pois a sua mensagem
reflecte afinal o que vai no fundo de cada um de nós: a perplexidade, a
angústia, a incompreensão pelo desconhecido que nos amputa tudo aquilo que faz
com que a vida mereça ser vivida: e falo de coisas simples, como um abraço de
um familiar querido, o beijo de um neto ou a partilha do quotidiano com os
amigos, sem medo ou receio.
Apetece dizer “já passa”, sabendo que
irão ser muitos meses do mesmo, com a agravante de que a miséria começa a
grassar em muitas famílias, e com isso, virão ao de cima coisas de que não vamos
gostar. Mas a força tem de vir de uma reinvenção dos gestos, simples e amigos.
Há que recriar, digo eu, sem saber ainda como…
Obrigado pela mensagem, que não deixou
de me comover, pois mexeu com aquilo que nós temos de mais íntimo. Um abraço,
Arfemo