segunda-feira, 22 de junho de 2020

VISITA ÀS TERRAS DO ABSURDO




Mal chegou aquele lugar, situado lá para os cabos do absurdo, e então era de ver como o próprio surpreendente acorria a tropeçar nele. Reparou
facilmente que a quase totalidade dos moradores olhava o mover do mundo à sua volta, mas olhava para não ver. Reparou que havia escolas onde aos habitantes se ensinava essa estranha pratica de olhar para não ver, usando-se, ainda, um processo de indução que os levava a convencerem-se que, mesmo olhando, diziam não ver o que estavam vendo. Reparou que o próprio lugar era uma máquina que, tendo embora muitos olhos, olhava, não em função do ver nítido, mas em função do não ver nítido. Reparou, também, que isso era gerador de grande confusão e de maior sofrimento e que se devia à sacralização de um embuste social a que chamavam economia.

E, então, deu-se a interrogar. Como é que tanto investimento na cegueira prepara alguma coisa ou alguém para devires trágicos que, como elos de corrente, estão sempre a chegar? Com o acréscimo de que, o discernimento trazido pelo olhar de ver, informaria o todo que, podem não ser sempre as tragédias que se abatam sobre os lugares, mas serem os erros de caminho a levarem os lugares à tragédia.  
 Claro que toda a vida é um lugar rodeado de perigos. Mas um enxame de vespas será tão perigoso quanto nos afastarmos dele ou nos atrevamos a tentativas de aniquilação. Havia depois ali uma grande confusão que instalava todos os absurdos: nunca souberam discernir a diferença abissal que havia entre o quererem viver, e o darem cabo da vida, tarefa a que se dedicavam com bastante zelo.

22 de Junho 2020
João Santiago

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