Manifesto de
dor
É uma teia
cruzada de dores
Já não sei
onde vivo já não sei onde estou já não sei sequer se estou em algum lugar
Já nem sei
se sou
As notícias
todas tão más inundam as televisões os facebooks os jornais as revistas
E uma pessoa
entra numa ebulição de aflição
De
afogamento
Mais mortos
de Covid e mais doentes de Covid
A miséria as
casas sem espaço (quando há casa!) os transportes públicos a falta de emprego
A vida sem
amanhã hoje sabe-se lá como vai ser
Onde mora o
dinheiro onde mora o pão onde se compra a fruta onde se compra a carne o peixe
os vegetais
Que se põe
na mesa que se dá aos filhos para comer
Que sorrisos
se pode oferecer quando por dentro se vai morrendo aos poucos
Como se sai
do lixo quando se nasceu no lixo
Como se faz
para virar a vida de pernas para o ar e matar a injustiça destas vidas tantas
tão miseráveis tão desesperadas a caírem de podres
Afogadas na
sua própria miséria?
Como podem
viver sem dor os poderosos deste mundo
Como podem
ignorar a mortandade de tantos os ricos deste mundo
Como pode
haver quem defenda esta ignomínia
Já não somos
pessoas já nenhum de nós é humano já não somos dignos de nada dizer de nada
fazer de nada pensar
Já não somos
dignos da Vida que um dia nos foi dada
Nós e os
outros os poucos outros mas tão ricos tão poderosos tão felizes nos seus
palácios nos seus condomínios fechados
Indiferentes
aos que sofrem aos que morrem aos que se arrastam como vermes por este planeta
que não nos pertence
Como é
possível tanta ignomínia?
Não sei
fazer senão perguntas já não tenho respostas para nada
A minha
própria vida esvaindo-se na lama de tanta desgraça
13 Junho 2020
Natércia
Fraga
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