Caríssimas
e caríssimos companheiros da UNISETI,
Então,
têm lido muito, têm escrito alguma(s) coisa(s)? Já li de alguns, textos muito
interessantes no blog que o Dr. Arlindo Mota coordena.
Parabéns!
Começo
por agradecer as mensagens escritas, as lindas imagens e os telefonemas que
tenho recebido. É sempre um prazer falar com quem tem os mesmos interesses que
nós e sobretudo com alguém que conhecemos e que estimamos. Bem hajam! Falar
convosco ou ler-vos é um bálsamo para este viver entre quatro paredes em que
tenho de continuar pelo menos por mais um mês.
Hoje
celebra-se em todo o universo lusófono do Dia Mundial da Língua Portuguesa e,
sendo terça-feira, o nosso dia, não poderia deixar de aparecer aqui. Só para um
breve apontamento. Comemorando-se desde 2009, só em 2019 o Dia Mundial da
Língua Portuguesa foi reconhecido e ratificado pela UNESCO. É mais uma data a
lembrar que, de entre vários fatores e símbolos, também a língua nos une
enquanto comunidade. Na opinião de alguns, é um ponto de ligação dos mais
fortes, tocando as fibras mais sensíveis do nosso eu.
Socorrendo-me
das palavras do tradutor da versão portuguesa de a Demanda do Santo
Graal, «‘mas ora leixa falar’ os textos», em vez de falar sobre o
assunto, vou trazer para aqui alguns escritores que de forma bela, metafórica e
determinante têm valorizado esta simbologia da língua portuguesa e das palavras
que a constituem, promovendo a sua afirmação e, portanto, a sua importância
para a nossa identidade, que tem feição global, já que a língua portuguesa é
falada em todos os continentes, refletindo um aspeto identitário dos povos que
a falam, que é indissociável do mar, que simultaneamente nos separa e liga.
Diz
Fernando Pessoa: “Não tenho sentimento nenhum político ou social. Tenho, porém,
num sentido, um alto sentimento patriótico. Minha pátria é a língua portuguesa. Nada me pesaria que invadissem ou tomassem Portugal, desde que não me
incomodassem pessoalmente. Mas odeio, com ódio verdadeiro, com o único ódio que
sinto, não quem escreve mal português, não quem não sabe sintaxe, não quem
escreve em ortografia simplificada, mas a página mal escrita.” [Livro(s)
do Desassossego. Ed. Teresa Rita Lopes] Todos nós conhecemos esta citação,
mas no seu contexto frásico (que raramente é referido) conseguimos percebê-la
melhor.
Vergílio
Ferreira, em 1991, acrescenta-lhe outra ideia: «Da minha língua vê-se o mar» [“A
Voz do Mar”, in Espaço do Invisível 5], reforçando a
simbologia desta identidade. José Afonso, refletindo poeticamente sobre a
questão, “sou de uma vaga pátria carinhosa”, reconhece que “as palavras entontecem / quando dispersas levantam rumos vários” (Textos e Canções). Eugénio de Andrade,
reforçando os sentimentos de afetividade incluídos no sentido de pertença a uma
língua, afirma “Com
palavras amo.” [Cristalizações].
Mia
Couto conta-nos a história da mana Poeirinha “que foi beijada pelo mar. E se afogou numa palavrinha.” [O Beijo da Palavrinha] E assim esta
simbologia identitária transforma-se. A palavra mar, ao beijar-nos (quando a
proferimos) toma conta de nós, leva-nos consigo. Na perspetiva que estamos a
privilegiar, nós, falantes da língua portuguesa, passamos a ser parte dessa
simbologia.
Podia
ficar aqui citando autor após autor, já que praticamente todos têm escrito
textos sobre a importância das palavras e da língua portuguesa, mas esta
conversa já vai longa. Vou deixar-vos o prazer dessa descoberta nos livros que
há aí por casa. Vão aos livros. Deixem a internet a descansar.
É mais demorado, mas muito mais prazeroso. Enquanto se faz uma pesquisa em
livro as coisas fantásticas que encontramos! Bilhetinhos antigos, frases
sublinhadas que já tínhamos esquecido e muito mais…
Para
acabar, vou deixar-vos com uma estrofe de Resendes Ventura, o poeta que foi meu
companheiro por 41 anos, sem mais comentários.
Beijinhos,
Fátima
Ribeiro de Medeiros
“Logo
Existo” II
I
Como as
palavras são a minha essência
sem mais
filosofia que mo negue
procuro
no sentido do meu ser
as
palavras, palavras, as palavras.
As
Palavras que eu Sou (livro
inédito)
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