Episódio
15
Ninguém se considere
imune aos efeitos poderosíssimos daquilo a que já se chamou “a caixa que mudou
o mundo”.
Num lado da caixa
estão os atiradores. E há de tudo: snipers exímios, atiradores assim-assim e
canastrões.
Do outro lado estão os
alvos, que vão ser atingidos sem o saber.
Ao fascínio daquela
“coisa”, não resistiu aquele pobre diabo que há um par de anos aparecia nas
transmissões televisivas relativas a determinado clube do Norte, furando por
entre a multidão que também queria ser filmada. A figura triste e desdentada do
“emplastro” parecia que já fazia parte daquelas emissões.
E tantas vezes o
sorriso desdentado surgiu nos ecrãs que alguém de bom coração (ouvi dizer que
foi um conhecido humorista) resolveu oferecer uma dentadura nova ao infeliz,
que passou a exibi-la com um sorriso rasgado de orelha a orelha. Há dias voltei
a vê-lo no ecrã, que também já se chamou de pequeno ecrã e que hoje é do
tamanho que se quiser, só limitado pelo tamanho da bolsa que tem que o pagar. o
que me fez recordar o início da história.
Mas o fenómeno não
para aqui, no “Zé-povinho”, pois sempre que uma figura de primeiro plano é
entrevistada, vemos pessoas conhecidas ou ilustres desconhecidos que se querem
dar a conhecer, colocando-se estrategicamente de modo a conseguirem um segundo
plano que os coloque no “boneco”, não para obter uma nova dentadura, que bons
dentes já eles têm mas para alcançar um bom naco onde ferrá-los. E também aqui
há de tudo: políticos, empresários, professores universitários, enfim, aqueles
que devem ser os melhores de nós.
É uma cena triste.
14 de Maio de
2020.
Sanchez Antunes
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