Ele
percorria de uma forma estranha os corredores familiares do supermercado. A
carne e o peixe desapareciam a um ritmo alucinante. Arroz e farinha tinham
desaparecido literalmente. Álcool e gel há muito que não se viam.
Tranquilamente, adquiri um queijo tipo serra, uns gelados (mini), pão, pequenas
coisas para um quotidiano próximo do normal. Uns vinhos, confesso, um Syrah
estava em promoção: levei 10 garrafas dado que era um excelente preço.
Lembrei-me das pilhas, pois se tinha que ficar em casa não me parecia mal
pensado estar apetrechado, pois a minha WII há tempo que não era utlizada e –
pensei eu – é desta vez que me vou aproximar dos níveis de performance mais
elevados no meu jogo de ténis contra a máquina. Era tudo talvez um pouco irracional.
Depois lembrei-me de que minha mulher me pedira uns rolos de papel de cozinha e
outros tantos de papel higiénico (de quatro folhas, insistira ela, sublinhando
a cor) e uns pacotes de lenços de papel.
Encontrei um
vizinho que fora trocar um aparelho que não funcionava (acontece às vezes,
naquelas promoções…) e dirigi-me para a prateleira onde esses produtos
costumavam estar. À minha frente, uma senhora, com dois carrinhos, acabara de
esvaziar por completo a prateleira. Fiquei alerta. Troquei impressões com o vizinho
que fizera um trejeito resignado, “ que já na véspera tinha sido assim…”. Dirigimo-nos
à caixa, eu um pouco desolado, pois não escaparia do habitual comentário “nem
um recado sabes fazer…”, quando um diligente funcionário ouvindo o meu
comentário (eu falara em voz alta sem me aperceber) retorquiu “há-de ver daqui
a meia hora (eram 17h30m) vai ser um verdadeiro assalto, é assim há dois dias!”.
Então e vocês não podem fazer nada para evitar esta loucura?. Ele fez um sorriso
céptico e encolheu os ombros.
Hoje, tinha
visitas de família, e o papel podia escassear, voltei lá. Lá se encontrava a
mesma senhora, mais os seus dois carrinhos cheios de papel higiénico. Não
hesitei, levara um blazer cinzento escuro, fiz um ar carrancudo, puxei
rapidamente um cartão onde deixava antever o selo da República portuguesa e sem
mais delongas, afirmei em voz baixa mas firme: “sou da ASAE, a senhora está
sujeita ao pagamento de uma coima de 50 euros, se não deixar toda a mercadoria
de um dos carros aqui, nas prateleira de onde as retirou”. Surpreendida a
senhora, entre o estupefacto e o timorato, obedeceu instantaneamente,
balbuciando um quase inaudível pedido de desculpas. Nisso, acordei
estremunhado, acordando a minha mulher, que ficou assustado com o meu ar
ameaçador e a minha expressão extremista: ”Para a próxima será detida”.
Foi assim, o
meu primeiro dia…
arlindo
mota