Episódio 3*
Domingo, 22 de Março de 2020.
O dia nasceu com um Sol radioso, ainda que com
uma brisa fresca. Não resisti ao apelo, coloquei uma espreguiçadeira na varanda
e fui apanhar um banho de sol.
Olhei para baixo, tudo calmo. Não há deposição
de lixo. Da praceta em frente surge um vizinho de cigarro na mão. Gesticula e
fala sozinho, coitado, deve estar marado.
Várias pessoas passeavam pela trela os cães e
cãezinhos. Como praticamente não havia trânsito, iam pelo meio da rua. Um
deles, já conhecido, deslocando-se em cadeira de rodas passeava um cão bastante
grande.
Reparei num
“binómio” que reputei de estranho: o cão era pequenino e o dono muito grande. O
senhor era muito alto, tinha farta cabeleira e farto e negro bigode e tão negro
era que me colocou dúvidas se não seria pintado. Usava óculos de lentes grossas
emoldurados por espessas sobrancelhas. O cãozinho era pequenino e branquito.
Usava uma capinha, às riscas brancas e castanhas, que o cobria do pescoço ao
rabo. O dono, cumpridor do dever cívico de recolher os dejectos do animal, trazia
na mão um saquinho de plástico para o efeito. Para além disso mostrou-se muito
asseado e cuidadoso com o animal: depois do bichinho fazer as necessidades,
limpou-lhe o traseiro com papel higiénico que trazia no bolso. Confesso que
nunca tal tinha visto.
J.
Antunes
* O episódio 2 ficará omisso por decisão do autor
Sem comentários:
Enviar um comentário