quarta-feira, 25 de março de 2020

O QUE ASSUMO



 O que assumo, não é propriamente a escrita de um diário de alguém arcado por desusadas realidades. Mas, o historiar disse alguém que, enquanto detido, tenta fazer relato do esforço empreendido por si, na tentativa de ir empurrando as paredes do confinado afim de criar mais e mais espaço que o contrabalance perante essa incerteza de não saber até quando. Ou seja: uma vez que assim terá de ser, vou entrar em quarentena de devaneio. E digo, que para tanto, não trago planos. Vou observar o desembrulhar dos dias, vou-lhe juntando materiais que de mim venham, mas que desconheço e, com a paciência de um observador do acaso, fico esperando o surpreendente de encontrar um corredor de fuga, que me subtraia a esta estranha sensação de estar a ser roubado aos dias.
Ser a barca
E ser a vela
E mais o vento
Que sopra nela.

25 março 2020
João Santiago

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