terça-feira, 24 de março de 2020

REGISTOS DE UMA QUARENTENA, OU MAIS.




Episódio 3*

Domingo, 22 de Março de 2020.

O dia nasceu com um Sol radioso, ainda que com uma brisa fresca. Não resisti ao apelo, coloquei uma espreguiçadeira na varanda e fui apanhar um banho de sol.
Olhei para baixo, tudo calmo. Não há deposição de lixo. Da praceta em frente surge um vizinho de cigarro na mão. Gesticula e fala sozinho, coitado, deve estar marado.
Várias pessoas passeavam pela trela os cães e cãezinhos. Como praticamente não havia trânsito, iam pelo meio da rua. Um deles, já conhecido, deslocando-se em cadeira de rodas passeava um cão bastante grande.
Reparei num “binómio” que reputei de estranho: o cão era pequenino e o dono muito grande. O senhor era muito alto, tinha farta cabeleira e farto e negro bigode e tão negro era que me colocou dúvidas se não seria pintado. Usava óculos de lentes grossas emoldurados por espessas sobrancelhas. O cãozinho era pequenino e branquito. Usava uma capinha, às riscas brancas e castanhas, que o cobria do pescoço ao rabo. O dono, cumpridor do dever cívico de recolher os dejectos do animal, trazia na mão um saquinho de plástico para o efeito. Para além disso mostrou-se muito asseado e cuidadoso com o animal: depois do bichinho fazer as necessidades, limpou-lhe o traseiro com papel higiénico que trazia no bolso. Confesso que nunca tal tinha visto.
J. Antunes  

* O episódio 2 ficará omisso por decisão do autor

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