terça-feira, 14 de abril de 2020

O QUOTIDIANO INDUZIDO Estranho, muito estranho...



Era Julho ou Agosto não sei bem. Sei que as minhas mãos exalavam um perfume agreste enquanto moldavam na areia molhada uma coroa de espuma envolta em sargaços que me invadiam o corpo deixando nele um rasto áspero, escorregadio, mas revigorante. Eram afinal as ansiadas férias de Verão: como as leituras estavam há muito selecionadas, Outono podia esperar. De súbito vejo-me rodeado de uma miríade de minúsculos crustáceos que me mordiam assanhadamente os pés e as pernas e a comichão começava a ser intensa. Instintivamente ia para me coçar quando irrompe, ofegante, o vigilante da praia com o aviso de que esse gesto aumentaria o risco de se espalhar pelo corpo todo.
A partir daí só me recordo de ouvir para lavar bem as mãos com água e sabão e desinfetar com gel repetidas vezes. E pôr luvas e máscara. Sabão e água, álcool. A roupa a crestar. A roupa a lavar a 60º. Lavar bem as mãos com, lavar bem as mãos, lavar… depois, depois não me recordo de mais nada.  
14 de Abril 2020
arlindo mota

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