segunda-feira, 6 de abril de 2020

SE O SOL APARECESSE...


Se o sol aparecesse, tudo pareceria menos silencioso.
Acordo muito tarde, porque também me deito muito tarde. Mas não compensa. O acordar é sempre nublado, cansado, preocupado, apreensivo.
O primeiro pensamento vai invariavelmente para os seres mais chegados no amor. Filhos, netas, irmãos, sobrinhos, incluindo os sobrinhos netos.
Depois, ou quase em simultâneo, o que se passa, o que está a acontecer na vida lá fora, nas vidas para lá das minhas paredes-
Parece que são dois mundos, o nosso de cada um, fechados nos nossos muros, e os outros, os de tantos outros, com tantos outros muros.
O interior dos muros dos hospitais. O sofrimento, a dor, a doença, a morte.
E a esperança.
(O meu vizinho do lado continua a sair todos os dias. Sai e entra quase em silêncio, mas o seu catarro de fumador denuncia-o. O homem já anda nos 70 e é fumador inveterado. E bronco! Espero que não traga a doença para o prédio…)
E neste momento o Sol decidiu aparecer.

5 de Abril 2020
Natércia Fraga

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