segunda-feira, 6 de abril de 2020

REGISTOS DE UMA QUARENTENA, OU MAIS.


Episódio 10
Cumpro rigorosamente as ordens de não sair de casa, o que me impede de dar a minha caminhada habitual e por isso introduzi nas minhas rotinas diárias uma descida à garagem para pedalar na bicicleta estática pelo menos três quartos de hora e queimar aí umas quatrocentas calorias.
Hoje, ao reentrar em casa com o duche em mente senti, vindo dos lados da cozinha, um cheirinho a pão cozido que era um regalo. Este cheirinho fez-me recuar aos meus tempos de menino e ao cheirinho a pão cozido que vinha do forno da tia Emília, cujo padeiro o cozia de madrugada para que os fregueses o tivessem pela manhã.
A nossa imaginação é uma coisa fabulosa e, assim, do forno da tia Emília saltei para aquela greve prolongada e massiva dos padeiros aí pelo ano de 1976, pelos meus cálculos. Quem é que ainda se lembra dela? Já lá vai quase meio século!
Nas cozinhas daquela altura não pontuavam ainda aqueles escravos mecânicos que basta rodar o programador e carregar no botão para fazerem paparocas alimentares e alguns até fazem pão. Então, cada um fez o pão que foi capaz de fazer e os resultados nem sempre foram brilhantes, embora não haja notícia de alguém ter feito o pão que o diabo amassou. Contava um amigo meu, com alguma graça, que já quase sabia fazer pão, só lhe faltava saber como meter o miolo lá dentro. Bem, não foi isso que se passou cá em casa, quando espreitei na cozinha vi um belíssimo pão repousando, ainda quente, na tábua onde habitualmente é fatiado. Não resisti, fui-me a ele, cortei-lhe uma cabeceira, barrei-a com manteiga até escorrer e devorei-a com grande satisfação.
Dizem que nem só de pão vive o homem, mas pãozinho quente com manteiga ajuda muito…em certos momentos.          

4 de Abril de 2020

Sanchez Antunes


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