domingo, 5 de abril de 2020

REGISTOS DE UMA QUARENTENA, OU MAIS.


Episódio 8

Não posso dizer que este confinamento a que as circunstâncias nos obrigaram esteja a ser, para mim, penoso. Interiorizei que tem que ser assim e, deste modo, tudo se torna mais suportável.
Porém, aquilo que sinto que me daria grande prazer era dar um passeio pela beira-mar, lá em baixo, com o rio pertinho. Mas já que não o posso fazer, sonho com isso e com as caminhadas que vou dar na praia, de manhã cedo, quando a maresia é mais forte e a areia que o mar afagou durante a noite está lisa e olhar para trás e ver a minhas pegadas, perseguindo-me invejosas.
Também gostaria de subir a Arrábida e olhar o mar. Sim! Olhar o mar não é ver o mar, como já o tenho dito: ver o mar é avaliar a altura das ondas, a temperatura da água, a quantidade de sal, a cor da água eu sei lá. Olhar o mar é outra coisa, tem aquilo tudo mais o sonho. Aquele sonho que há séculos nos atormenta quando olhamos para o mar e para aquela linha de curva tão suave, lá longe, onde o céu se afunda e o mar se alevanta. Para lá dessa linha já sem mistérios, o sonho perdura na memória coletiva de um povo que fez do Sul o seu desígnio e, para sul, o mar.

2 de Abril de 2020,
Sanchez Antunes

Sem comentários:

Enviar um comentário