domingo, 5 de abril de 2020

REGISTOS DE UMA QUARENTENA, OU MAIS.



Episódio 9

Embora com maior permanência em casa, não aumentei o tempo dedicado à televisão, sendo os noticiários o que normalmente vejo.
Compreendo e aceito que o tema do Corvid-19, pela sua magnitude aterradora seja o assunto principal de todos os noticiários, mas a ocupação do tempo é tão grande que parece já não haver guerras por esse mundo fora, nem deslocações de populações em massa, nem campos de refugiados; já nem se fala disso.
Depois, com a frieza que só os números têm, apresentam-nos diariamente as quantidades de mortos, infectados, internados e curados. E veem as avalanches de gráficos, a cores ou a preto e branco, de barras, circulares, de linhas e os histogramas, para voltar a dizer o mesmo. E vêm os picos, a deslocação dos picos, os achatamentos, os planaltos. Sempre o mesmo.
Mas há dois dias caiu a pedra no charco: o ex-Presidente da República Ramalho Eanes foi entrevistado pela jornalista Fátima Campos Ferreira. Na parte final da entrevista o General, emocionado, disse do alto dos seus 85 anos, que os velhos são pessoas como as outras, que podem ser exemplo e que se estivesse no hospital com o vírus e necessitasse de ventilador, o cederia a alguém jovem com mulher e filhos que necessitasse daquele dispositivo para se salvar. Foi o coração português a falar.
Vem a propósito citar o professor Agostinho da Silva que na sua última entrevista referiu que os italianos àquele órgão vital chamam cuore e os franceses coeur, mas os portugueses deram-lhe mais importância: introduziram-lhe um aumentativo e deu coração, que é uma coisa grande. Tal como a vontade do povo a que pertence, acrescento eu.

3 de Abril de 2020.
Sanchez Antunes


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