POEMA ESCRITO POR MARIA DE SOUSA quatro
dias antes (em 3.03.2020) de saber que estava infetada pelo vírus COVID 19, que
a matou no dia 13.04.2020. O poema foi inicialmente escrito em inglês, conforme
foto. É impressionante… Fátima Ribeiro Medeiros
CARTA DE AMOR NUMA PANDEMIA VÍRICA
Gaitas-de-fole tocadas na Escócia
Tenores cantam das varandas em Itália
Os mortos não os ouvirão
E os vivos querem chorar os seus mortos
em silêncio
Quem pretendem animar?
As crianças?
Mas as crianças também estão a morrer.
Na minha circunstância
Posso morrer
Perguntando-me se vos irei ver de novo
Mas antes de morrer
Quero que saibam
O quanto gosto de vocês
O quanto me preocupo convosco
O quanto recordo os momentos
partilhados e
queridos
Momentos então
Eternidades agora
Poesia
Riso
O sol-pôr
no mar
A pena que a gaivota levou à nossa mesa
Pequeno almoço
Botões de punho de oiro
A magnólia
O hospital
Meias pijamas e outras coisas
acauteladas
Tudo momentos então
Eternidades agora
Porque posso morrer e vós tereis de
viver
Na vossa vida a esperança da minha
duração
Maria de Sousa
(Tradução de João Luís Barreto
Guimarães)
Muitbbinte
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