Episódio 13
De vez em
quando pego no smartphone, percorro a lista dos contactos e ligo àqueles de
quem há mais tempo não tenho notícias.
Hoje
calhou a vez de estar à conversa, com um amigo de longa data, um homem simples
e bom que vive no campo. O local não é um descampado, mas as casas dos vizinhos
distam pelo menos uns bons cem metros umas das outras e a separá-las vinhas e
mais vinhas.
Está claro
que a conversa começou (e acabou) com o tema do dia e, embora a “coisa” vá
sendo suportável sempre fui dizendo que saídas de casa só para ir à farmácia e
pouco mais.
A resposta
deixou-me a pensar:
- Pois aí
está uma grande diferença entre o campo e a cidade. Vocês, aí na cidade saem de
casa para ir à farmácia, eu saio de casa para ir à horta, tratar dela, colher o
que preciso para a panela e de regresso passo pela capoeira e trago os ovos que
as galinhas puseram. Tudo como a natureza o dá.
- Realmente,
nesse aspecto tens razão, respondi. Mas os seres humanos são gregários, vivem
em grupo, concentram-se nas cidades.
- Sim,
vivem em prédios de muitos andares, em cima uns dos outros e apesar disso já
ouvi dizer que há casos em que no mesmo prédio vivem pessoas que não se
conhecem e nem se cumprimentam quando se cruzam na escada ou utilizam o mesmo
elevador. Quando vou ver a vinha ou as árvores e vejo um dos meus vizinhos, lá
no terreno dele, levanto o braço em sinal de cumprimento e ele responde-me da mesma
maneira. Depois há outro aspecto que te quero lembrar: é a perda de contacto
com a Natureza que os citadinos têm. Não sabem o que é sentir a terra lavrada
destorroar-se debaixo dos pés, sentir o cheiro que sobe da terra aquando das
primeiras chuvas, sentir a força pujante da Natureza em toda esta verdura viva
que me rodeia.
-
Parece-me que hoje estás com a veia poética desatada, atalhei eu.
- Talvez
sim, já li em qualquer lado que a poesia faz parte da vida.
-
Certamente que sim. Mas diz-me lá, o que é que pensas desta pandemia do corona?
- O que eu
penso é que é a Natureza a cobrar a factura das agressões a que os seres vivos
humanizados (alguns muito pouco) a tem sujeitado. Isto tinha que acontecer, com
vírus, criados nos laboratórios dos humanos ou no grande laboratório da
Natureza ou com outra catástrofe qualquer, era inevitável e espero que o pior
não esteja para acontecer, pois como também já li não sei onde, “a Natureza
destruirá o homem antes que o homem destrua a Natureza”.
- Palavras
muito acertadas meu amigo, estou contigo na defesa desta Grande Casa Humana.
22 de
Abril de 2020
Sanchez Antunes
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