São 4 horas da tarde, aquela hora do dia
em que é cedo e tarde para tudo. Grande parte do dia já passou, mas outro
tanto, teimosamente, ainda resiste.
Esgotaram-se as tarefas repetidas para
vestir o tempo, nenhum acontecimento novo para registar, a chuva
cancelou os passeios na varanda e,  por detrás de um céu de
cinza, o sol aguarda para espreitar.
Resto eu e as minhas contradições,
divagando numa casa demasiado grande e demasiado pequena, demasiado aberta para
a rua e demasiado fechada para a vida.  
No silêncio da solidão descobri
equívocos, ideias que rejeitava e agora ressurgem, realçadas pelo egocentrismo
a que estes dias obrigam.
Descobri : 
- a dificuldade de rir, porque rir é um
acto de alegria partilhada
- a tendência de valorizar situações
que, antes, não teriam importância nenhuma
- a facilidade de acenar e mentir a um
"olá tudo bem?" com a negra verdade fechada no cofre da mão
- que o tempo é grande demais e não o
consigo encher por mais que esprema a imaginação 
- a inutilidade de um
"diário", porque, por muito que me esforce, um dia,  ninguém vai
acreditar que isto aconteceu!
Entretanto lá fora morre uma pessoa
infectada a cada hora que passa, as estações de TV informam que vem aí muito
calor e mostram loiros e convidativos areais, e há uma grande preocupação com o
início do campeonato de futebol.
Como dizia D. Fabrizio Salina no eterno
" O Leopardo" de  Tomasi de Lampedusa, "...é preciso
que alguma coisa mude para que tudo fique na mesma".
29 de Abril de 2020
MAlice Silva
 
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