Episódio
10
Cumpro
rigorosamente as ordens de não sair de casa, o que me impede de dar a minha
caminhada habitual e por isso introduzi nas minhas rotinas diárias uma descida
à garagem para pedalar na bicicleta estática pelo menos três quartos de hora e
queimar aí umas quatrocentas calorias.
Hoje, ao reentrar
em casa com o duche em mente senti, vindo dos lados da cozinha, um cheirinho a
pão cozido que era um regalo. Este cheirinho fez-me recuar aos meus tempos de
menino e ao cheirinho a pão cozido que vinha do forno da tia Emília, cujo
padeiro o cozia de madrugada para que os fregueses o tivessem pela manhã.
A nossa
imaginação é uma coisa fabulosa e, assim, do forno da tia Emília saltei para
aquela greve prolongada e massiva dos padeiros aí pelo ano de 1976, pelos meus
cálculos. Quem é que ainda se lembra dela? Já lá vai quase meio século!
Nas cozinhas
daquela altura não pontuavam ainda aqueles escravos mecânicos que basta rodar o
programador e carregar no botão para fazerem paparocas alimentares e alguns até
fazem pão. Então, cada um fez o pão que foi capaz de fazer e os resultados nem
sempre foram brilhantes, embora não haja notícia de alguém ter feito o pão que
o diabo amassou. Contava um amigo meu, com alguma graça, que já quase sabia
fazer pão, só lhe faltava saber como meter o miolo lá dentro. Bem, não foi isso
que se passou cá em casa, quando espreitei na cozinha vi um belíssimo pão
repousando, ainda quente, na tábua onde habitualmente é fatiado. Não resisti,
fui-me a ele, cortei-lhe uma cabeceira, barrei-a com manteiga até escorrer e
devorei-a com grande satisfação.
Dizem que nem só
de pão vive o homem, mas pãozinho quente com manteiga ajuda muito…em certos
momentos.
4 de Abril de 2020
Sanchez
Antunes
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