Trigésimo dia
Neste período conturbado em que vivemos,
parecemos perdidos no tempo. Aos dias sucedem-se os dias sem que nada de novo
aconteça a não ser a incerteza.
A 
incerteza do pico que já não é pico 
é agora planalto, mas pode voltar a ser pico.
A incerteza da capacidade de resposta do SNS
no caso de um aumento e agravamento  do
número de casos .
A incerteza da existência  em número suficiente de equipamentos de
protecção e  stock  de testes.
A incerteza da capacidade de recuperação da
nossa  economia
A incerteza da continuada capacidade  de isolamento social  que nos é pedida  sem que daí advenham estragos  na 
nossa  saúde mental ,física e
psic0lógica  
A incerteza que já é certeza, do  agravamento das desigualdades socias 
A incerteza da capacidade  de existências de respostas socias mais
alargadas.
A incerteza sobre os mecanismos de controlo
que podem levar à geolocalização.
A nossa vida oscila hoje entre  aborrecimento e  ansiedade, nalguns casos até entre dor e
sofrimento, e a angústia e incerteza do tempo presente e  do amanhã. 
A geração grisalha vê-se hoje confrontada com
um novo e expectável renovamento do confinamento e isolamento social. Privados
de poderem  contactar,  conviver e abraçar aqueles   que 
mais amam e gostam . Forçados a uma clausura indefinida ainda no tempo e
privados  de um dos mais elementares dos
nossos direitos, o gozo da liberdade plena enquanto seres individuais e
colectivos.
Ao trigésimo dia esta minha personalidade
inquieta-se. Vive-se hoje uma realidade que parece ser  mas na verdade não é. A minha existência
parece tornar-se impossível a não ser que exista em mim uma réstia de esperança
no amanhã.
Esperança desde logo nos heróis de  hoje em todas as suas dimensões.
Esperança  na partilha de saberes,  na investigação e na cooperação. Esperança no
timoneiro ao leme da caravela portuguesa. Oxalá saiba orientar  o quadrante do  astrolábio 
ao rumo certo que nos leve a bom porto e a ultrapassar estes adversos
tempos.
País de heróis marinheiros que fomos, que
desbravamos mares nunca dantes navegados, havemos de desbravar este tenebroso e
invisível inimigo. 
O tempo de hoje  é de incerteza o de amanhã será de
esperança.  Seremos  então todos heróis. Havemos de voltar a ser
nós.
16 de Abril 2020
Fernanda Resende
 
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