Era Julho ou
Agosto não sei bem. Sei que as minhas mãos exalavam um perfume agreste enquanto
moldavam na areia molhada uma coroa de espuma envolta em sargaços que me
invadiam o corpo deixando nele um rasto áspero, escorregadio, mas revigorante.
Eram afinal as ansiadas férias de Verão: como as leituras estavam há muito
selecionadas, Outono podia esperar. De súbito vejo-me rodeado de uma miríade de
minúsculos crustáceos que me mordiam assanhadamente os pés e as pernas e a
comichão começava a ser intensa. Instintivamente ia para me coçar quando
irrompe, ofegante, o vigilante da praia com o aviso de que esse gesto
aumentaria o risco de se espalhar pelo corpo todo.
A partir daí
só me recordo de ouvir para lavar bem as mãos com água e sabão e desinfetar com
gel repetidas vezes. E pôr luvas e máscara. Sabão e água, álcool. A roupa a
crestar. A roupa a lavar a 60º. Lavar bem as mãos com, lavar bem as mãos,
lavar… depois, depois não me recordo de mais nada.
14 de Abril 2020
arlindo mota
Sem comentários:
Enviar um comentário