Tenho andado longe da poesia.
A tentar esconder de mim a tristeza e o desânimo que
se vão insinuando.
A cabeça começa a fervilhar num enorme desassossego.
Uma espécie de medo vai furando entre as malhas da capa com que me tenho vestido.
A saudade, de tantas pessoas, de tantas coisas. Os
abraços e os beijos que já nem sei se saberei dar. O amor contido, escondido no
fundo do sótão, sem luzes acesas, para não faltar tanto. A incerteza. O não saber quando.
As palavras que não digo. O som da minha voz que se
perdeu. As vozes que habitavam os meus dias. Os sorrisos que não vejo. As mãos
que não afago, os olhos que cegam nos poucos metros fora da minha janela.
Os dias vão doendo cada vez um pouco mais. A chuva
miudinha, tonta, que suja o céu. Cava mais fundo esta sensação de estar
sozinha. Nesta casa, nesta praceta, nesta cidade, neste país, neste continente,
neste planeta…
E tanta devastação em todo o lado. Tantas mortes,
tanta dor, tanta perda.
Que é de nós, os ditos humanos? Tanta prosápia, tanta
arrogância, quanta vaidade, e, afinal, tão pequeninos somos, tão impotentes.
Como um ser microscópio nos mata, nos devora tudo, nos desfaz a humanidade.
Como será depois? Que de nós restará para escrever a
história deste tempo? Quem de nós viverá para pegar na pena dos dias e contar
deste tempo?
Será que em nós restará algo do que nos faz humanos?
Natércia
Fraga
13.Abri.2020
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